[a música de ninar & a interpretação de texto]
são mais de dez da noite, e mãe está cantando uma das músicas preferidas do filho, ambos deitados lado a lado na cama. filho está quase dormindo.
“você é linda, mais que demais
você é linda sim
onda do mar do amor
que bateu em mim”
–mamãe… -interrompe o filho- a onda bateu em quem?
–ãh…
–será no caetano veloso? -o filho senta, pra conversar melhor.
–pode ser. acho que sim.
–e o que é uma onda do mar do amor?
–ãh…
–era uma onda “filhinho” ou uma onda “mamãe”? ou “papai”?
–ãh… uma onda “filhinho”? -responde a mãe, sem a menor convicção do “tamanho” da… “onda”. porque, pro filho, onda “filhinho” é aquela bem pequenininha.
–ah, então acho que a onda molhou só o tênis do caetano, né? melhor assim.
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[o termômetro que diz “sim”]
filho com febre. vou medir a temperatura.
–mamãe, o termômetro está dizendo que pode.
–pode o quê, filho?
–pode ir pra escola!
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[coisa de pele]
–mamãe, eu gosto muito da Branquinha. adoro abraçar e apertar ela. porque ela fica feliz. mas eu gosto muito mais de abraçar você.
–eu também adoro abraçar você, filho!
–é que sabe, mamãe?, eu gosto mesmo é da sua pele! a pele da Branquinha não é tão gostosa!
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[direto do produtor]
–mamãe, quero morango com mel.
–puxa, hoje não tem mel, vai ser só morango mesmo.
–acabou nosso mel?
–acabou.
[corta para dois dias depois. filho andando pelo quintal. no meio das flores, vê uma abelha. chega bem pertinho dela]
–abelinha, oi, tudo bem? seguinte: você precisa fazer mais mel, porque a mamãe disse que o da nossa casa já acabou…
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[o mais rápido que posso]
–filho, vamos acordar?
[terceira tentativa já]
–estou “se” espreguiçando…
–mas estamos com pressa, filho.
[vira pro lado, abraça a coelha de pelúcia, suspira e fecha os olhos]
–mamãe, estou “se” espreguiçando o mais rápido que posso.