Arquivo da tag: papeis

sim, pais, vocês podem

imagem da comunidade “Mês de Valorização da Paternidade”

Em agosto, uma extensa programação marcou o “Mês de Valorização da Paternidade“. Rascunhei vários posts sobre isso, anotei umas zentas ideias, mas, no fim das contas, agosto acabou e eu não publiquei nada. Está repetitivo, eu sei, mas é a verdade: correria, correria, correria, que redunda em pouco tempo para o blog (e para outros prazeres da vida. Pergunta quando foi a última vez que fui ao cinema com o Dri. Respondo: antes do Enzo nascer. E lá se vão, pelo menos, um ano e poucos meses… Pergunta há quanto tempo não consigo abrir o livro que estou “lendo”. Há mais de 15 dias. Nem uma abridinha sequer…).

Ok, desculpas justificativas à parte, mesmo atrasada, resolvi postar algumas considerações sobre a paternidade. Coisas que tenho pensado, outras que já pensava antes mesmo de ser mãe (quando, aliás, eu tinha certeza de que nunca seria mãe…), coisas que tenho lido e que geraram reflexão. Tudo inspirado por esse post do Alex Castro sobre paternidade. Ele resume bem a história toda com essa frase aqui: “Ser pai não é pra ser fácil. Se seu filho quase não te dá trabalho, alguma coisa você está fazendo errado”.

Alex fala sobre homens separados que se consideram ótimos pais só porque ligam para os filhos todos os dias e depositam mensalmente a grana que paga parte das contas do rebento. O texto dele é ótimo e merece uma complementação: tem muito homem que age exatamente da mesma forma só que morando na mesma casa com o filho, sabe como?

Daí que acho que a paternidade também precisa ser discutida –assim como a gente faz (até demais) com a maternidade. E estou falando não de ter filhos, mas de criá-los; não só de educar os pimpolhos e “transmitir valores” (como Alex comenta no texto dele que é coisa adorada pelo “pai-alfa”), mas de enfiar a mão na massa mesmo. Inspirada pelo post do Alex, decidi postar reflexões que eu já fazia sobre paternidade e que, soltas num ou noutro rascunho, tentei juntar por aqui. Penso mais ou menos o seguinte:

1) Definir o conceito: “pai é quem cuida”, estamos de acordo? Mas o que é “cuidar de filho”? Feliz –ou infeliz–mente, tanto para mães quanto para pais, cuidar envolve trocar fraldas, dar banho, planejar a alimentação, cozinhar, servir o almoço-lanche-jantar na hora certa, colocar para dormir, ajudar a dormir, acordar na madrugada para ficar com o pequeno insone, dar conta das “birras”, ler uma historinha, levar e buscar na escola, ir ao pediatra, ir a reuniões de escola. Inclui abrir mão de uma série de coisas, entre elas uma certa ascensão profissional. Inclui cozinhar aos sábados, inclui ler menos, beber menos, ter menos vida social. Inclui namorar menos (com a mãe/o pai da criança ou com qualquer outra/o). E mais uma infinidade de compromissos cotidianos que vão garantir o crescimento saudável da cria -e que vão mudando conforme a faixa etária vai avançando. Se você, pai, ainda não faz tudo isso, melhor refletir um pouquinho: ou está faltando alguma coisa para o seu filho ou a mãe dele está sobrecarregada.

2) Aproximar conceitos: paternidade não é tão diferente de maternidade quando os pais realmente são presentes, assumem seu quinhão de responsabilidade –e de prazer, porque cuidar é muito bom também. Mas acontece que as cobranças acabam recaindo só sobre as mães. Ou alguém aí ouve com frequência um pai ser interpelado por outra pessoa com a seguinte pergunta: “como você concilia carreira e paternidade”? Não faz lá muito sentido perguntar isso APENAS  para a mulher. Se estamos falando de paternidade de verdade, o pai vai ter que rebolar –como rebolam as mães– para conciliar seu trabalho com a paternidade, para não levar esporro de chefe porque chegou atrasado (de novo) por causa da reunião na escola, para não perder promoções ou para lidar bem com as promoções perdidas. Ontem ainda li uma chamada nessas capas de revistas femininas que dizia mais ou menos assim: “vale a pena o esforço de dar conta da carreira, da maternidade e do casamento?”. Me pergunto se essas revistas são mesmo femininas. Porque elas NUNCA assumem a defesa da igualdade de gêneros. O homem não deveria estar igualmente comprometido com a paternidade e com fazer o casamento dar certo? Acho que falta evoluirmos muito nesse sentido ainda para que a maternidade e paternidade sejam sinônimos de fato.

3) Brincar de boneca: li esses dias uma frase que dizia mais ou menos o seguinte: enquanto não for permitido aos meninos brincarem de bonecas, pais que trocam fraldas, dão banho, cozinham para os filhos e assumem compromisso com o cuidar diário serão mais exceção que regra. Simples assim. Eu já dizia quando estava grávida (razão pela qual levei vários amigos incrédulos às gargalhadas compulsivas) e reafirmo: Enzo terá muitas bonecas e será estimulado a brincar com elas. Ainda não é hora, mas ganhará as deles quando for. Por enquanto, ele demonstra todo o seu afeto (com abracinhos, beijinhos, carinhos e companhia) ao Leo e ao Leozinho, seus dois leõezinhos de pelúcia, pelos quais é apaixonado.

4) Abaixo a supermãe: mulheres, por favor, vamos parar com essa bobagem de “dar conta” de tudo? Ainda bem, não somos perfeitas nem super coisa nenhuma. Ainda bem, somo só humanas. É nossa responsa também que os homens não participem mais da parte braçal –e mais trabalhosa– da criação dos filhos. Assumimos tudo o que há para ser feito, aceitamos tudo o que os homens não fazem. E ainda achamos o máximo quando, no fim do dia, exaustas, descabeladas, cheirando a comida azeda e com cara de chapadas, contabilizamos quantas coisas fizemos. Reclamar não adianta nada, ok? É preciso mudar de postura. Aos poucos, de uma vez, com carinho, com firmeza, do jeito que der. Mas com mudança prática. No nosso caso, aqui em casa, sempre houve divisão de tarefas. Todo mundo faz de tudo. Dri assume não só as responsas de pai presente, mas de dono de casa.  Já contei aqui (com muito orgulho do Dri, aliás), como a paternidade dele é que permite a minha maternagem. Recomendo a leitura.

5) Licença paternidade: Sou super favorável à licença paternidade decente  porque: a) vai ajudar os pais a colocarem a mão na massa; b) pode permitir que os homens participem de fato do nascimento e dos primeiros meses dos filhos (tão cruciais); c) vai reduzir a discriminação profissional em relação às mulheres e d) deve tirar um importante argumento de quem ainda tem a cara de pau de defender a discrepância entre salários de homens e mulheres que ocupam igual posição. Desde 2008, acontecem aqui e ali algumas manifestações nesse sentido, há projetos de lei em tramitação para elevar a licença para um mês, mas, até agora, nada. Uma das campanhas, a “Dá Licença, Sou Pai“, teve até a participação de “globais”. Mas há um silêncio sobre isso até entre as mães. Acho que falta mobilização nossa –das mães e dos pais– para o tema ganhar a dimensão que merece.

Para quem quiser ver o vídeo direto no Youtube, só clicar aqui.

6) Sim, pais, vocês podem: acho que falta um empurrãozinho para estimular os pais a assumirem mais responsabilidades no cuidar dos filhos. É preciso vontade deles, claro, mas também estímulos, condições favoráveis e compreensão. O meu empurrãozinho virtual é esse: vamos refletir? Vamos arregaçar as mangas? Vamos seguir o exemplo de tantos pais que se jogaram na paternidade e não se arrependem (taí o Renato Kauffman que não me deixa mentir)? Vamos ser sinceros e assumir que o papel tradicional de pai é cômodo e não dá mais conta de cumprir as obrigações paternas –ainda bem– no século XXI?

2 Comentários

Arquivado em gênero, Maternidade, paternidade, reflexões

nosso papel nos papéis de gênero

Numa loja de roupas para crianças, um pai, uma mãe e uma menina de três anos. A menina precisava de sapatos. Mas a mãe se encantou mesmo com uma tiara. Enquanto o pai calçava e descalçava os modelos na filha, que, indiferente, continuava brincando com seus livros de colorir, a mãe insistia em botar o acessório na cabeça da pequena.

Mãe colocava. Filha tirava. Mãe colocava de novo. Filha tirava de novo. Mãe trocava o modelo da tiara (“Esse vai servir melhor”). Filha nem deixava ela terminar de encaixar o objeto na cabecinha. Mãe insistia. Filha começava a chorar. Pai intervinha: “ela não gosta disso! Deixa ela”.

A mãe, ela própria, tinha uma dessas na cabeça. Depois da intervenção paterna, mãe ficava amuada, cara fechada, procurando novos modelos de tiara. Assim que dava uma brecha, tentava colocar na menina novamente. A cena se repetiu por três vezes, até que a menina não parou de chorar.

A mãe, entre irritada e decepcionada, quando viu que não teria jeito de convencer a cria a usar o troço na cabeça, ameaçou:

-Quando crescer, vai adorar uma dessas, você vai ver. Aí a mamãe ajuda a escolher umas bem bonitas, para você ir lindona para a escola, para as festas…

A filha interrompeu, ainda com lágrimas nos olhos:

-Não quéio!

-Ah, mas você vai querer! Espera só você ser maior.

**********

A cena, da qual participei involuntariamente (eu e o casal estávamos na mesma loja), me fez pensar em algumas coisas:

ESPELHO, ESPELHO MEU: Queremos tanto, mas tanto, que nossos filhos sejam nossa imagem e semelhança que mal dá para disfarçar. É difícil conceber que, de repente, a cria tem outras inclinações, outros sonhos, outros valores; que mesmo que tenhamos lutado à beça para sermos quem somos, pode ser que os nossos acertos, aos olhos dos filhos, simplesmente não sirvam. Ponto.

Acho, tirando por mim e pelas minhas conversas de travesseiro comigo mesma, que duas coisas doem muito nisso tudo: 1) Aceitar que os filhos podem ser nossos opostos, podem ser opostos inclusive de características nossas que amamos. Porque se o rebento for diferente de você naquele defeito que te aborrece horrores, você vai ficar super feliz. O problema é quando a cria resolve ser diversa em pontos dos quais você se orgulha em você mesmo.

Dá uma impressão de falha, de que você não foi um bom modelo, ou de que o filho está menosprezando aquilo que você é, respeita e admira. Fato é que a gente cria um modelo do que seria o filho ideal, mais ou menos baseado no ideal que fazemos de nós mesmos, e nos esforçamos para enquadrá-lo nisso.

2) Aceitar que não podemos melhorar a nós mesmos e consertar a nossa infância/adolescência/expectativas frustradas com a vida do herdeiro. No fundo, mesmo o item anterior, trata disso: tendemos a projetar nas crianças as nossas frustrações e desejos e dar a eles tudo o que julgamos que nos falta. E “ai” do filho, aquele ingrato que não sabe o valor das coisas, se ele não quiser o que a gente oferece assim, de mão beijada, mas que para nós foi custoso a vida inteira.

Já me peguei várias imaginando a escola ideal pro Enzo. E qual será? A que tem tudo o EU queria que meus colégios tivessem e eles não tinham. Ah, cê jura?

Tenho certeza absoluta de que não ficarei nem um pouco chateada, preocupada, frustrada, decepcionada etc etc etc se Enzo for, por exemplo, gay. Já achava isso antes de ter filho (quando todo preconceituoso me saía com essa pergunta infame “você ia querer um filho gay” em discussões em que eu defendia a orientação sexual). E fiquei mais convicta agora, que sou mãe. Mas se ele for um machista conservador… Aí vai doer. Como lidar com a possibilidade de os filhos não serem o que a gente espera deles, ou seja, uma versão (supostamente) melhorada de nós mesmos?

PAPÉIS DE GÊNERO: Nascemos livres de estereótipos, de papéis, de amarras limitantes, com todas as possibilidades do mundo para explorar. Daí as pessoas mais velhas logo se incumbem de nos mostrar que, bem, não é assim tão simples: se formos meninas, TEMOS de gostar disso, daquilo ou daquilo outro. Se formos meninos, TEMOS de brincar disso, daquilo, daquilo outro.

Daí que, depois da “guerra da tiara”, fiquei pensando o quanto ainda contribuímos, como pais, querendo ou sem querer, para manter um fosso gigantesco entre meninos e meninas, homens e mulheres. Se, por um lado, as crianças só querem saber de brincar livremente (de coisas “de menino” e de coisas “de menina”), por outro, fazemos questão a todo instante de marcar as diferenças de gênero estabelecidas.

Menino só ganha determinado tipo de brinquedo, só se veste com determinada roupa, só assiste a determinados desenhos e programas, é estimulado a ter determinadas atitudes, tudo para reforçar o que se espera deles: que sejam agressivos, exploradores, cheios de iniciativa, racionais, líderes.

Para as meninas, o contrário: estimula-se a passividade, uma visão “mágica” da vida, o romantismo. E, cada vez mais cedo, cobra-se delas que se preocupem com o que toda mulher tem que se preocupar, afinal: ser bonita, se vestir de forma sexy, atrair o homem certo, porque, sem isso, minha filha, sua vida não tem sentido. O único objetivo de vida de uma mulher é ser escolhida pelo cara certo. Então, mexam-se mocinhas, v’ambora colocar tiara, sapatinho de salto, roupinhas fashion que já evidenciem alguns de seus melhores atributos. Nada de se sujar, de correr e suar, de brincar no chão, de abrir os aparelhos eletrônicos pra ver o que tem dentro. Nada de subir em árvore, de andar de skate, de jogar bola. Nada de usar esses shorts feiosos, camisetas, tênis. Nada de se divertir. A beleza tem seu preço, acostumem-se que só piora (depilação, horas num salão fazendo a unha, cirurgias plásticas para corrigir os defeitos imperdoáveis, lipoaspiração que homem não escolhe as gordas etc etc etc).

É ou não é isso que estamos dizendo para as nossas meninas todos os dias? E parece que estamos fazendo isso cada vez mais cedo. Já vi menininhas que mal sabem andar se equilibrando em sapatinhos de salto. Eu me preocupo muito com isso. Até porque tive a sorte de não viver isso de forma tão explícita na minha infância, o que, julgo eu hoje, depois de seis anos de terapia, me fez um bem danado.

Fui livre, fiz tudo o que quis e, primeira neta/sobrinha do lado da minha mãe, cheguei ocupando espaços tanto nas aspirações femininas (da avó, da tia) quanto nas masculinas (avô, tio).

Ao mesmo tempo em que fazia vários programas “de menina” com a minha avó e minha tia (passeios em shoppings, comprinhas, comidinhas, tricô e crochê -a avó tentou ensinar, eu não aprendi-, vestir as roupas da tia, “roubar” a maquiagem dela, brincar de ser ela, ir ao cinema ver filmes “de menina”), tive uma relação bem mais próxima com meu avô e meu tio do que tiveram outras meninas da minha geração com os respectivos.

Meu avô fazia questão de conversar comigo sobre “coisas de menino”, como esportes (ele era fã de Fórmula 1) e independência financeira. Ele sempre me estimulava a estudar, adorava quando eu contava que estava “indo bem” na escola, incentivava que eu pensasse numa carreira e sempre me dizia que “primeiro tenha uma profissão, sua casa e seu carro. Depois pense em amor”. Prático, mas vamos combinar que são conselhos bem diferentes dos dados geralmente a uma menina. Nunca fui cobrada -nem por ele, nem por ninguém- a ter certas posturas de menina.

Já o meu tio me levava com ele para todos os lugares, inclusive para as quadras de futebol, para dar voltas de moto pela cidade (desde o 4 anos) e para os bares com os amigos (ah, os anos 80!). Foi ele quem me ensinou a dirigir (aos 14 anos, mas não conte para ninguém) e quem me deu de presente, quando eu tinha uns 10, um super mega master blaster carrinho de rolimã, com freios, encosto e carpete.

Então, sem cobranças para ser isso ou aquilo e com passe livre para efetivamente aproveitar a companhia dos familiares queridos, tive o melhor dos “dois” mundos, que, para mim, nunca foram dois, eram sempre o mesmo.

Sou mãe de menino. Sei que as coisas são mais injustas com as meninas, mas digo sem medo que os papéis são limitantes para os mocinhos também. E se Enzo não gostar de carros? E se Enzo quiser cozinhar, gostar de poesia, for mais romântico (não estou querendo dizer o homem que dá flores, essa bobagem, mas aquele que vê a vida sob o prisma das emoções)? E se Enzo curtir brincar de bonecas, cuidar, oferecer carinho? E se ele não se identificar com o estereótipo do “macho alfa”?

Há um tempo, uma colega cujo filho (uns 3 ou 4 anos) gostava de flores, fotografia e culinária, ouviu piadinhas maldosas sobre a sexualidade do garoto na redação da revista em que trabalhávamos. É, na redação, onde, supostamente, somos todos “mente aberta”. Ãhã. Somos sim, viu?

Sinceramente, se Enzo for tudo isso que descrevi, por mim, ótemo! Mas o que quero dizer, usando Enzo como exemplo, é que há inúmeras possibilidades diferentes da hegemônica para os meninos também. Poder tomar a iniciativa e ser mais ativo que passivo, ter uma dose de agressividade é uma coisa ótima, pela qual a gente -gênero feminino-, ainda luta. Mas ser OBRIGADO a fazer isso SEMPRE também não é legal. O machismo vitimiza os homens também.

Tento oferecer múltiplas oportunidades ao Enzo, de carrinhos (embora ele ainda não tenha nenhum com o qual brincar) a bonecas. Outro dia, numa loja de brinquedos educativos, vi um menininho todo feliz brincando com uma cozinha de madeira. Por que não? Se quiser, Enzo vai ter uma. E, para querer, a cozinha tem que ser oferecida a ele como opção.

Sempre me pergunto: será que faço mesmo isso? Que ofereço inúmeras possibilidades? Ou sem perceber limito meu filho e exijo dele que se encaixe em certos padrões sociais? A mãe da tiara tem tanta certeza de que a filha vai se adequar que até já anteviu isso: “quando crescer, você vai gostar”. Nada contra. Mas será que a menina vai gostar mesmo ou terá sido  induzida a gostar por ter aprendido que é assim que “as meninas fazem”?

Será que temos tido consciência do nosso papel na disseminação dos papéis de gênero? É isso mesmo que queremos? Uma filha princesinha e um filho guerreiro? Se for, ok. Mas e se não for e acabar sendo porque nem conseguimos nos questionar a respeito? Somos -todos nós- frutos da sociedade em que vivemos. E essa mãe da tiara -pegando a tiara como exemplo dessa limitação de papéis de gênero- também deve ter sido ensinada a gostar de tiaras. Mas será que precisamos mesmo reproduzir isso ad infinitum?

Veja, não estou dizendo que as mulheres só gostam das tiaras porque foram ensinadas assim. Tem gente que gosta mesmo. Tem mulher que gosta mesmo de ocupar e viver os papéis tradicionais. Tem gente que vive os papéis tradicionais em partes. As coisas não são só brancas e pretas, afinal, há nuances variadas. Mas nem falo disso, pois aí não há problemas.

O problema começa quando pensamos em todas as outras meninas e meninos que, bem, gostariam e poderiam ter ido além disso (sem juízo de valor nesse “além”) e não foram porque menino “é assim”, menina “é assado”.

Minha reflexão é sobre se, quando e como nós, pais, sem perceber, somos os principais responsáveis não por alargar os horizontes dos pequenos, apoiar os filhos e acolhê-los como são; mas por tolhê-los, limitá-los, cobrá-los e exigir deles que sejam algo que não são. Esse não é o tipo de mãe que eu quero ser. O mundo vai dar a “gaiola” para o Enzo. Eu quero dar as asas. Por isso, sinceramente, espero todos os dias refazer e refazer essa reflexão.

3 Comentários

Arquivado em gênero, Maternidade, reflexões

pai de menina: recomendado!

Passei só pra recomedar a leitura do guest post de uns dois dias atrás no blog da Lola: “Pai de menina“.

É sensacional. E foi de lavar a alma ver um cara se colocando tão bem no lugar das mulheres, porque agora tem uma filha e, portanto, percebe mais claramente a discriminação velada, disfarçada de brincadeira, e que começa quando as pessoas ainda são bebês.

Quando viu a filha ser tratada, na brincadeira, como “alvo” dos menininhos; quando se viu cobrado a “defender” a “honra” da bebê, ficou mais evidente para ele o papel que a sociedade ainda quer enfiar goela abaixo das mulheres. Pena que nem todos os pais -nem todas as mães- notam ou se indignam com isso.

Vale muito a pena. O exemplo dele mostra como, a despeito de acharem que o feminismo acabou ou não tem mais razão de ser, ainda há muito o que fazer numa sociedade que continua estimulando papeis estanques -e opressivos- para ambos os gêneros.

http://escrevalolaescreva.blogspot.com.br/2012/05/guest-post-pai-de-menina.html

Deixe um comentário

Arquivado em gênero, reflexões