Daí que agora que Enzo é bípede e, embora ainda seja um bípede que, pra ser bípede, dependa de uma forcinha de outros bípedes, resolvemos que era hora do moçoilinho ter sapatos. Porque, né?, na qualidade de bebê, ele ainda não tinha ganhado nenhum modelo de calçado. Dri e eu sempre achamos que seria uma bobagem obrigar um bebê que só fica no colo ou que só engatinha a usar um troço incômodo que serviria pra nada, naquele momento.
O objetivo de ensiná-lo a usar os sapatos agora, na verdade, é dar mais liberdade a ele. Faz um tempo, desde que ganhou confiança para ficar em pé, que Enzo pede para descer do colo ou sair do carrinho quando estamos na rua ou em lojas, restaurantes etc. Como sabe o que é capaz de fazer, não aceita mais ficar longos períodos restrito ao colo ou a qualquer outro meio de transporte.
Então achamos que havia chegado a hora de comprar tênis e deixar o minimenininho explorar, na vertical, com suas próprias pernocas gordinhas, o mundo aí fora. Primeiro, pensei em um calçado que fosse com velcro, para facilitar a nossa vida na hora de vestir no bebê, que não é nada adepto dessa coisa inventada pela civilização e popularmente conhecida como “roupa”. Imaginamos que ele não seria muito fã de sapato.
Como sou meio louca ansiosa, num dia decidi que compraria os sapatos e, no outro, já queria que Enzo saísse de casa calçado! Daí que fui pro shopping resolvida a comprar o primeiro par que servisse, para ele usar naquele dia mesmo. Experimenta daqui, experimenta dali e os modelos de velcro não calçavam bem, não se ajustavam com segurança ao pé gordinho da cria, saíam com facilidade, de modo que acabei levando um de cadarço mesmo. Porque, como disse, sou meio louca ansiosa e não quis esperar e procurar um de velcro que se adequasse melhor. Não saí 100% satisfeita da loja, mas pelo menos iria poder botar Enzítolo no chão do shopping, meu objetivo imediato.
Só que, é preciso dizer, Enzo não ficou assim tão satisfeito com o tênis quanto eu (quase) fiquei. Chorou, chorou, chorou; tentou tirar zentas vezes, indignadíssimo por não conseguir; teve dificuldades para andar, caiu, se revoltou; não conseguiu sair do lugar por longos minutos, chorou de novo, até que, de repente, mais por insistência do que por ter achado boa a ideia de andar de tênis, ele acabou conseguindo trocar uns passinhos, com muita dificuldade.
Daí que, aos trancos e barrancos, ele foi se arrastando com o tênis, que pesava nos pés, incomodava, o fazia tropeçar. Ok, eu já esperava por isso, sabia que não seria assim tão fácil a adaptação, afinal, Enzo sempre andou com os pés praticamente no chão (de meias), estava condicionado a sustentar apenas aquele peso e já sabia a medida dos pezinhos, de modo que não se atrapalhava mais com eles como estava fazendo com o sapato. Peguei ele no colo de novo quando vi que estava sendo chato para ele aquela experiência e fomos continuar o passeio.
Pois eis que vejo, de longe, um bebê com um tênis de uma marca de que eu gosto muito, da qual eu mesma tenho vários calçados. Adoro desde que ainda era moda nos anos 80, continuei adorando depois que todo mundo odiou nos anos 90 e, agora que é cool de novo, ainda amo. Sou uma moça fiel, afinal. Como é que não pensei nisso antes? Como não passou pela minha cabeça de louca fã comprar um desses pro Enzo?
Lá fomos nós experimentar mais sapatos no pequeno… Quem sabe esse não fica melhor? E sabe o quê? Enzo amou esse! Porque é de velcro, muuuuito mais fácil e rápido de vestir; porque é bem mais leve; porque tem uma forma mais adequada ao pezinho do Enzo, calçou melhor; porque não deu a ele a impressão de que o pé cresceu do nada (como o outro, maior); porque a sola é mais baixinha e fininha, o que facilita a adaptação; porque, no fim das contas, tem um corte, um peso e um tamanho mais próximos do formato que Enzo já conhecia -e dominava- dos próprios pezinhos. Sem contar que o velcro facilita o ajuste, o pé não fica “dançando” dentro do tênis.
Não que ele tenha se acostumado 100%, muito pelo contrário. Vestir o calçado ainda é uma briga e, não raras vezes, requer a habilidade de dois adultos.
ABRE PARÊNTESE: Fiquei pensando que fazer os pequenos se acostumarem a certas obrigações/facilidades/exigências (chame como quiser) da civilização é uma tarefa necessária, mas inglória, que começa na roupa e no sapato. É difícil convencer um serzinho acostumado ao contato livre com o próprio corpo e ao controle de andar literalmente com os próprios pés que ele precisa ficar “preso” a um monte de pano ou a um calçado que, vamos combinar, são coisas incômodas mesmo. FECHA PARÊNTESE.
De qualquer forma, Enzo agora está na fase do “estou me acostumando”. De vez em quando ama usar o tênis, de vez em quando odeia e, na maioria das vezes, suporta com restrições (quando dá na veneta, arranca e joga longe mesmo ou simplesmente tira do pé disfarçadamente. Vai que a gente não vê e perde, né? Suspeito que ele torça secretamente por essa opção).