Arquivo do mês: maio 2012

o primeiro sapato

Daí que agora que Enzo é bípede e, embora ainda seja um bípede que, pra ser bípede, dependa de uma forcinha de outros bípedes, resolvemos que era hora do moçoilinho ter sapatos. Porque, né?, na qualidade de bebê, ele ainda não tinha ganhado nenhum modelo de calçado. Dri e eu sempre achamos que seria uma bobagem obrigar um bebê que só fica no colo ou que só engatinha a usar um troço incômodo que serviria pra nada, naquele momento.

O objetivo de ensiná-lo a usar os sapatos agora, na verdade, é dar mais liberdade a ele. Faz um tempo, desde que ganhou confiança para ficar em pé, que Enzo pede para descer do colo ou sair do carrinho quando estamos na rua ou em lojas, restaurantes etc. Como sabe o que é capaz de fazer, não aceita mais ficar longos períodos restrito ao colo ou a qualquer outro meio de transporte.

Então achamos que havia chegado a hora de comprar tênis e deixar o minimenininho explorar, na vertical, com suas próprias pernocas gordinhas, o mundo aí fora. Primeiro, pensei em um calçado que fosse com velcro,  para facilitar a nossa vida na hora de vestir no bebê, que não é nada adepto dessa coisa inventada pela civilização e popularmente conhecida como “roupa”. Imaginamos que ele não seria muito fã de sapato.

Como sou meio louca ansiosa, num dia decidi que compraria os sapatos e, no outro, já queria que Enzo saísse de casa calçado! Daí que fui pro shopping resolvida a comprar o primeiro par que servisse, para ele usar naquele dia mesmo. Experimenta daqui, experimenta dali e os modelos de velcro não calçavam bem, não se ajustavam com segurança ao pé gordinho da cria, saíam com facilidade, de modo que acabei levando um de cadarço mesmo. Porque, como disse, sou meio louca ansiosa e não quis esperar e procurar um de velcro que se adequasse melhor. Não saí 100% satisfeita da loja, mas pelo menos iria poder botar Enzítolo no chão do shopping, meu objetivo imediato.

Só que, é preciso dizer, Enzo não ficou assim tão satisfeito com o tênis quanto eu (quase) fiquei. Chorou, chorou, chorou; tentou tirar zentas vezes, indignadíssimo por não conseguir; teve dificuldades para andar, caiu, se revoltou; não conseguiu sair do lugar por longos minutos, chorou de novo, até que, de repente, mais por insistência do que por ter achado boa a ideia de andar de tênis, ele acabou conseguindo trocar uns passinhos, com muita dificuldade.

Daí que, aos trancos e barrancos, ele foi se arrastando com o tênis, que pesava nos pés, incomodava, o fazia tropeçar. Ok, eu já esperava por isso, sabia que não seria assim tão fácil a adaptação, afinal, Enzo sempre andou com os pés praticamente no chão (de meias), estava condicionado a sustentar apenas aquele peso e já sabia a medida dos pezinhos, de modo que não se atrapalhava mais com eles como estava fazendo com o sapato. Peguei ele no colo de novo quando vi que estava sendo chato para ele aquela experiência e fomos continuar o passeio.

Pois eis que vejo, de longe, um bebê com um tênis de uma marca de que eu gosto muito, da qual eu mesma tenho vários calçados. Adoro desde que ainda era moda nos anos 80, continuei adorando depois que todo mundo odiou nos anos 90 e, agora que é cool de novo, ainda amo. Sou uma moça fiel, afinal. Como é que não pensei nisso antes? Como não passou pela minha cabeça de louca fã comprar um desses pro Enzo?

Lá fomos nós experimentar mais sapatos no pequeno… Quem sabe esse não fica melhor? E sabe o quê? Enzo amou esse! Porque é de velcro, muuuuito mais fácil e rápido de vestir; porque é bem mais leve; porque tem uma forma mais adequada ao pezinho do Enzo, calçou melhor; porque não deu a ele a impressão de que o pé cresceu do nada (como o outro, maior); porque a sola é mais baixinha e fininha, o que facilita a adaptação; porque, no fim das contas, tem um corte, um peso e um tamanho mais próximos do formato que Enzo já conhecia -e dominava- dos próprios pezinhos. Sem contar que o velcro facilita o ajuste, o pé não fica “dançando” dentro do tênis.

Não que ele tenha se acostumado 100%, muito pelo contrário. Vestir o calçado ainda é uma briga e, não raras vezes, requer a habilidade de dois adultos.

ABRE PARÊNTESE: Fiquei pensando que fazer os pequenos se acostumarem a certas obrigações/facilidades/exigências (chame como quiser) da civilização é uma tarefa necessária, mas inglória, que começa na roupa e no sapato. É difícil convencer um serzinho acostumado ao contato livre com o próprio corpo e ao controle de andar literalmente com os próprios pés que ele precisa ficar “preso” a um monte de pano ou a um calçado que, vamos combinar, são coisas incômodas mesmo. FECHA PARÊNTESE.

De qualquer forma, Enzo agora está na fase do “estou me acostumando”. De vez em quando ama usar o tênis, de vez em quando odeia e, na maioria das vezes, suporta com restrições (quando dá na veneta, arranca e joga longe mesmo ou simplesmente tira do pé disfarçadamente. Vai que a gente não vê e perde, né? Suspeito que ele torça secretamente por essa opção).

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o rei está de cueca!

Apesar de eu ter trabalhado horrores no fim de semana de 19 e 20 de maio -acabo deixando para escrever as matérias quando o Dri está em casa para cuidar do Enzo, pois preciso de bastante concentração na hora de redigir-, consegui dar umas fugidinhas bem bacanas durante a tarde de sábado, 19/5. Embora fizesse um friozinho aqui em SP, estava um sol lindo, céu aberto, delícia de flanar com o bebê por aí.

Descobri que ia rolar uma contação de histórias pertinho de casa e arrisquei ir. Sei que Enzo é bem bebê ainda, que não compreende ainda o conteúdo que está sendo narrado, nem consegue ficar muito tempo prestando atenção na mesma coisa. Mas sei também que compreende a entonação das palavras, que capta a atmosfera festiva, que gosta do contanto com outras pessoas, que tem prazer em ficar perto de outras crianças (ainda que por pouco tempo e no meu colo) e que responde muito bem à música. Não sabia se teria música, mas achei que sim. E fomos lá, Enzo e eu, destemidos, no sling.

Geralmente, quando vou percorrer “longas” distâncias a pé, prefiro levar o bebê no carrinho, pois não aguento muito o peso do pimpolho (11,2 kg!). E dá preguiça, confesso. Mas no sábado, resolvi que a ocasião pedia um corpo-a-corpo com a cria, deu vontade e pronto, fomos slingando juntos até o local da contação.

Chegamos uns 10 minutos atrasados, o que prejudicou um pouco, pois Enzo ficou mais longe do que deveria do casal de contadores. Como a concentração dos bebês nessa idade ainda é bastante fluida, facilitaria um contato mais próximo com a pessoa que fala. Mas, mesmo assim, ele ficou bastante interessado.

Prestou atenção em cada detalhe, na entonação da voz, no jeito de andar e falar da contadora, nas risadas que ela dava, nas pausas, nos objetos que segura e, principalmente, na música. Toda vez em que se tocava o violão ou em que os contadores cantavam alguma coisa, Enzo fixava ainda mais o olhar, parecia se divertir mais.

Claro que o interesse exclusivo pela história teve prazo de validade. Durou uns 20 minutos, tempo de terminar  o primeiro conto. Pouco depois de começar o segundo, uma adaptação do clássico “A Roupa Nova do Imperador“, do Hans Christian Andersen, Enzo resolveu que queria mesmo era descer do colo, andar (se segurando em mim, que ele ainda não anda sozinho), passear por entre as pessoas e, enfim, subir no banquinho e brincar com a fresta entre um pedaço e outro da madeira do banco.

Ele se divertiu à beça, conheceu gente nova (várias mães de crianças e, em especial, uma mãe cujo filho também chama-se Enzo), riu para toda essa gente, subiu no banco, desceu do banco, tirou o tênis várias vezes, sentou, levantou novamente, investigou texturas e formas e, assim que terminou a segunda contação, resolveu que era hora de ir embora.

Saldo muito positivo, na minha avaliação. Primeiro porque acho importante começar a introduzir Enzo em atividades lúdicas, artísticas, sociais. As contações entraram para a nossa agenda semanal. Segundo porque noto, como já disse, que ele adora se relacionar com outras crianças. E levá-lo a ambientes em que haja crianças virou uma prioridade. Terceiro porque confirmei que ele fica muito mais alegre quando faz alguma atividade diferente da cotidiana. O bebê definitivamente não gosta de rotina.

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Nesse fim de semana agora (26 e 27/5), optamos por um passeio ao ar livre no domingo e também foi ótimo. Na noite do sábado, aniversário da minha mãe, fomos com ele a uma pizzaria com playground. Resumo da ópera: passei boa parte do jantar do lado de fora, no parquinho, brincando com Enzo (no colo) ou levando-o para ver as outras crianças brincarem. E foi impressionante ver como ele já entende o que se passa. Ele ficou muito, mas muito atento mesmo às atividades dos meninos maiores. E riu muito, muito mesmo, de todas as traquinagens. Tanto que, quando o parque esvaziou, acabei cedendo e deixando que ele escorregasse no escorregador. Claro, segurando em mim e no pai, nós dois é que fomos “escorregando” Enzo, com toda a segurança. Mas não deu pra não deixar ele ao menos provar o gostinho, depois de ter se divertido tanto assistindo à diversão dos outros.

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E o que tem a ver o título do post com tudo isso? Bem, na adaptação que os contadores fizeram do conto do Andersen, o rei (ou imperador) estava de cueca, não nu. 🙂

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confissões hedonistas

Eu tenho que:

-Mandar e-mail de trabalho;

-Passar pano no chão;

-Colocar roupas na máquina de lavar;

-Almoçar;

-Fazer xixi;

-Dormir (passei a noite acordada terminando uma matéria que precisava entregar hoje).

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Eu quero:

-Blogar (tenho 14 ideias rascunhadas para tirar do papel, mais um monte de coisas que passam diariamente na minha cabeça);

-Ler um pouco mais do livro começado em dezembro e, vergonhosamente, ainda não terminado;

-Começar a ler/reler a bibliografia recomendada para a prova do mestrado (vou prestar quando abrir o próximo edital, provavelmente em outubro);

-Avançar na leitura desta biografia do John Lennon;

-Assistir aos outros episódios do documentário em série “Amores Expressos“, da Estela Renner e do Tadeu Jungle.

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Eu disponho de:

-Pouco mais de uma hora e meia, duas horas, tempo médio que dura o soninho da tarde de Enzo. #comofaz? Alguma dica? Alguma sugestão? Alguém? Alguém?

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Bom, como você está lendo esse texto, acho que fica óbvia minha opção mais ou menos hedonista, né?

Eu fiz:

-Passei pano na casa rapidinho, caprichando só onde o Enzo fica;

-Botei o que sobrou da massa de ontem no micro-ondas com um pouco de molho pronto e comi, em menos de cinco minutos, com um resto de salada de rúcula;

-Fiz o xixi mais rápido da história;

-Mandei o e-mail mais objetivo ever;

-Mantive o espírito dormir é para os fracos;

-Corri para o blog;

-E daqui vou para um dos artigos da bibliografia do mestrado.

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Deixar pra lavar a roupa só amanhã pode, Arnaldo?

(PS: esse post foi escrito na segunda, dia 21/5)

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primeiros passos

Enzo andou hoje! E eu é que fiquei sem fôlego. Estou meio que sem acreditar até agora -e olha que já faz umas duas horas. Foi tão tranquilo e natural que ele nem se deu conta do que estava fazendo. Estávamos ambos na sala; eu sentada no sofá, ele no chão. Como sempre faz, o minimenininho se apoiou na estante, se levantou, catou um brinquedinho e ficou mexendo nele, absorto (ele fica tão compenetrado que até franze as sobrancelhas, parece prestes a descobrir o Bóson de Higgs. Parece o Sheldon, para orgulho do pai, rá!).

Enquanto observava o objeto -nem lembro o que era, confesso, o bebê se desencostou da estante. Até aí, ok, ele já fez isso zentas vezes. Fica em pé sem apoio por cada vez mais tempo, numa boa.

Mas eis que, de repente, ele olhou para mim, que estava sentada bem em frente. Sorriu. Percebi que ele queria me alcançar e estendi o braço para ele se apoiar, mas Enzo, que segurava o brinquedo com as duas mãos e continuava olhando fixamente para ele,  nem notou o apoio oferecido, nem notou que estava completamente sem NENHUM apoio. Como se sempre tivesse feito isso, simplesmente andou.

Deu um, dois, três passinhos. Começou a se desequilibrar quando ia trocar o pé par dar o quarto passo. Amparei, ele continuou a caminhar sem perceber a mudança, alcançou meus joelhos, mordeu minha perna, deu a risadinha delícia que sempre dá quando me morde e eu protesto com um “ai ai ai ai” de brincadeira, sentou novamente e tocou a vida.

E eu, abestada, saí ligando pro Dri, pro meu pai, pra minha mãe, pro meu irmão, saí mandando e-mail pra família inteira e, claro, assim que o pequeno dormiu e eu, finalmente, almocei, vim aqui, contar pras mãe tudo.

É lindo ou não é? Meu minimenininho está cada vez mais menininho.

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dormir é para os fracos

Daí que a mãe acabou de colocar o bebê no berço. Não é cedo. São mais de 23h, mas o filho dorme tarde mesmo, e os pais meio que agradecem, pois preferem dormir um tantinho “depois da hora” que acordar às 6h, notívagos que sempre foram. Bebê dormindo, quentinho, coberto. Check.

Aí a mãe vai até a cozinha, pega uma maçã, vai pra sala, pega uma revista, aquela que ela comprou no fim de semana anterior, depois de fuçar zentas bancas de jornal e não achar, aquela que ela estava louca pra ler; senta, estica as pernas no sofá e, finalmente, abre o periódico. Uma lida aqui, uma mordida ali, maçã acaba, são 23h30, marido lembra que é bom aproveitar pra descansar enquanto a cria dorme, mãe avalia que marido está certo, faz mais de 15 dias que ambos não descansam direito, pois filho resolveu acordar de hora em hora de novo (coisa que não fazia desde mês e meio).

Mãe levanta, escova os dentes, põe pijamas e, quase se deitando, lembra que esqueceu de trocar a água da Jóh, a gata. Volta pra cozinha, lava o potinho, seca, coloca água fresca, pega a bichana no colo, leva pra cama, deitam ambas.

1, 2, 3, 4, 5, 6 e…Enzo acorda! Nem 40 minutos depois de adormecer, cansadíssimo. #comassim? Mãe, incrédula, levanta. Mãe, irritadíssima, levanta. Mãe, com sono, levanta. E respira fundo antes de entrar no quarto. E, quando vê o filho todo fofo, em pé no berço, coçando os olhos e rindo pra ela, dá um sorriso sincero misturado a um suspiro igualmente sincero e aprende uma nova acepção para a palavra “contradição”.

Toca mãe e filho irem pra sala. No colo, bebê apoia o rostinho nos ombros da mãe, fecha os olhos. “Oba, acho que foi alarme falso, ele vai voltar a dormir, só queria ser ninado”, pensa a mãe, cheia de culpa e remorso por ter ficado tão irritada. E aí, entre um beijinho e outro nos cabelos cheirosos do rebento (todo bebê é assim tão cheiroso ou isso é coisa de mãe hormonalmente descompensada?), mãe cumpre à risca todas as orientações para fazer-cria-dormir-no-meio-da-madrugada: Não acende luz nenhuma. Caminha de um lado pro outro, corredor afora, corredor adentro, vai-e-volta na mais absoluta escuridão. Não abre nem a cortina da sala, que é pra não deixar a claridade da rua entrar pela janela e colocar a perder o sono do pequeno.

Anda compassadamente, igual tartaruga. Passinhos curtos, ritmados, bem vagarosos, sabe como? E ainda via jogando o corpo levemente de um lado pro outro, dando aquela gingada de nana-nenê. Não abre a boca, não fala nada, só sussurra canções de ninar. Não dá muito certo, pois o filho, curioso, quer saber de onde vem o som sussurrado.  Como está enxergando neca naquele escuro todo, começa a procurar a boca da mãe com as mãozinhas, se agita, desencosta a cabecinha e…NÃO!… começa a falar.

Opa, opa, opa, sinal de alerta. Mãe se cala de vez, esquece a canção de ninar, abaixa de leve a cabecinha do filho até encostar no ombro materno de novo e se concentra só nos passinhos ritmados. Vai-e-volta, vai-e-volta, vai-e-volta, vai-e-volta, vai-e-volta, vai-e-volta, vai-e-volta, vai-e-volta, vai-e-volta, vai-e-volta, vai-e-volta, vai-e-volta, vai-e-volta, vai-e-volta, vai-e-volta, vai-e-volta, vai-e-volta, vai-e-volta… Ok, deu pra entender, né? Vai-e-volta no repeat por, sei lá, 30 minutos.

Nesse meio tempo, bebê levanta e abaixa a cabecinha do ombro da mãe várias vezes, balbucia alguma coisa, recosta novamente, num exercício constante de dar esperanças à mãe sonada e tirá-las sem dó nem piedade. O fato é que a mãe é otimista incorrigível -ou está precisando desesperadamente de cama- para ainda acreditar que, àquela altura, o filho vai voltar a dormir rapidinho. Se fosse, já teria dormido, o que não é o caso.

Mãe tenta voltar a cantar baixinho. E aí o sono do bebê some de vez. Animado (ainda que a mãe esteja cantarolando canções de ninar que derrubariam qualquer brutamontes), bebê recomeça a balbuciar, só que dessa vez em alto e bom som, dirigindo-se aos quadros, móveis e objetos que ele encontra pelo caminho e consegue reconhecer na penumbra.

-Abufff….guuuu…éééééé…pápápápápápápápá.

Putz, pensa a mãe, “abuf” e “pápápá” ele só fala quando está ligado no 220.

Conformada, ela acende uma luz fraquinha no canto da sala, senta-se com o filho no chão, espalha os brinquedos e se rende à realidade: a cria despertou e quer fazer bagunça na madrugada, de novo. Entre bocejos, “pescadas” discretas e tentativas aguerridas de se manter desperta (o que não parece ser dificuldade alguma para o filho), mãe participa dos exercícios bebezísticos da cria insone.

Bebê sobe no sofá, pega brinquedo, caminha até a braceta da direita, joga o objeto lá de cima, olha para a mãe, espera a mãe pegar, joga de novo, olha para a mãe, espera a mãe pegar, segura o brinquedo, olha, analisa, morde, vira-se para o outro lado, anda até o braço esquerdo do sofá, joga brinquedo lá de cima, olha para a mãe, espera a mãe pegar, segura o brinquedo, joga longe, vê outro brinquedo no chão, pede para descer, caminha (com ajuda da mãe) até o novo objeto, senta, pega, chacoalha, olha, ameaça por na boca, “não põe na boca, filho!” três vezes, chora, engatinha um pouco para a esquerda, levanta apoiando-se na estante, caminha uns passos, quase cai, ri para a mãe que o segura, caminha até o fim do corredor três vezes, soltando uns gritinhos de emoção, senta de novo, pega outro brinquedo, solta uns abuuuufff, ri de si mesmo, engatinha correndo atrás da gata, chama a mãe para ajudá-lo a voltar andando, volta até o sofá, resolve subir. E…

…tudo de novo em looping, ou seja, por duas horas no repeat. Sem descanso, sem bocejo, sem quase nem piscar de olhos da cria. Quando finalmente vislumbra um coçar de olhos, uma piscadela mais demorada e um abrir de boca sinalizando que o soninho está querendo aportar, mãe pega o filho no colo, às pressas, e começa a chacoalhar.

Bebê reclama, ainda não era hora, mãe! Mãe devolve bebê no chão; ele sobe no sofá, pega brinquedo, caminha até a braceta da direita, joga o objeto lá de cima, olha para a mãe e…mais meia hora de exercícios bebezísticos. Até que filho dá outro bocejo, outro piscar demorado, outra coçadela no olho. E começa um chorinho irritado.

Achando que só vai dormir no dia seguinte (tecnicamente já é dia seguinte, mas para a mãe só é dia seguinte quando amanhece, herança dos tempos baladeiros), mãe pega a cria só para acalmar o filho. Inicia um chacoalhar suave, sussurrando de novo a música de ninar preferida do pequeno. Em 3, 2, 1-surpresa total- bebê adormece, suspira profundamente, daquele jeito gostoso que só os bebês conseguem suspirar.

Mãe sorri num misto de “ai que gracinha” com “ainda bem que ele dormiu, meodeos”. Caminha até o quarto quase em respirar, coloca filho no berço e vai saindo bem devagar.

Ufa, pensa, agora finalmente vou poder dormir, descansar, fechar os olhos, relaxar. Cava um espaço embaixo do edredom, felinamente ocupado pela gata e pelo marido, se arruma, puxa a blusa do pijama, que enrolou, apoia uma perna sobre a outra (está virada para o lado direito), coloca o travesseiro na posição ideal, encaixa melhor na curvinha no pescoço, respira fundo e fecha os olhos.

1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9….Não está bom. Vira de barriga pra cima, ajeita os pés, desenrola o pijama que dessa vez tinha ficado preso nas costas, arruma novamente o travesseiro, puxa o edredom mais para perto do queixo, que está frio, procura, com o pé, o pé do marido, encosta a mão na mão do marido, fecha os olhos, respira fundo.

1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9….Não está bom. Vira para o lado esquerdo, apoia uma perna sobre a outra, coça as costas, coça a orelha, dá uma viradinha a mais para acomodar melhor os ombros, afofa o travesseiro, afunda a cabeça nele, desafunda, pois ficou sem ar, estica um braço, desdobra uma perna, coça a cabeça, fecha os olhos, respira fundo.

1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9….Não está bom.

Mãe, irritadíssima, levanta. Perdeu o sono.

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minha mãe que disse

Ó só que honra: hoje, Enzo e eu estamos contando nossos causos lá no Minha Mãe que Disse, das ótemas Mari, Flávia e Roberta. Obrigada, meninas! Beijão especial pra gatona da Mari, fofa como sempre! Adorei blogar por aí, contem comigo sempre que quiserem.

Vou dar só uma palhinha do post por aqui, ok?

Rá. Mais gritos desesperados. O supermercado inteiro -incluindo os produtos nas prateleiras, os peixes, os filets mignon e aquele tomatinho orgânico que você ia comprar, mas que está muito caro- olha para você com ar de reprovação.

Daí você chacoalha ainda mais o bebê, numa tentativa de acalmá-lo à força. O que, claro, não dá certo. Os gritos estridentes do filho e a cara de péssimos amigos das pessoas sugerem que alguém vai te denunciar pro Conselho Tutelar. Nesse exato momento, nesse preciso momento em que você acaba de decidir deixar as compras -e os 40 minutos que você perdeu- para trás e ir embora (de preferência por alguma fenda mágica que abra no chão ou por um portal místico que te faça sumir dali), o filho começa a rir loucamente.

Você não entende lhufas. Serei eu mãe de um bebê bipolar? Terá meu filho crise de identidade? Será a cria dona de múltiplas personalidades? Terá o lado Raquel ido embora e assumido o lado Rutinha? Estará entre nós o Chapolim Colorado?

Pra ler tudim, corre !

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a importância dos outros

Já fui mais favorável às datas comemorativas “comerciais”. Mesmo assim, e apesar de saber que elas têm como objetivo estimular o consumo e o consumismo, acho válido, sob certos aspectos, o fato de elas existirem. São um ritual, uma marcação, e essas coisas têm lá sua importância.

Por exemplo: sempre comemoramos o Dia dos Namorados aqui em casa, com presente e tudo o mais, ainda que seja um presente simbólico (uma barra de chocolate diferente, uma cerveja que o marido estava querendo, um café da manhã caprichado na cama…). Podemos nos dar esses mimos e fazer a comemoração em qualquer dia? Claro que sim. E fazemos. Mas como a rotina e a correria são uma ameaça constante a esses momentos, é bom saber que, se não der para ter esses momentos com a frequência ideal, pelo menos vamos contar com uma “forcinha” das datas comemorativas.

Evidente que não adianta nada comemorações mecânicas, homenagens frias e desdém no restante do ano. Mas estou falando de casos em que as datas só ajudam, uma vez que, claro, elas sozinhas não resolvem nada.

Tudo isso para dizer que -agora mais que nunca- o Dia das Mães é bacana demais para comemorar, juntar a família, socializar, ritualizar. E fizemos de tudo isso um pouco ontem: almoçamos com minha mãe, minha sogra, meu pai, meu irmão e a namorada e meu cunhado. Estivemos cercados de muito carinho, afeto e bom papo, e Enzo comemorou ainda mais, pois teve à disposição o colo das duas avós, do avô e dos tios ao mesmo tempo. Tanto que ele ficou tão excitado que só conseguiu dormir depois da meia-noite.

Além disso, a data foi também importante para refletir. Refleti muito -e sem culpas nem crises- não apenas sobre meu papel como mãe e o que eu significo para Enzo, mas também sobre o meu “não-papel”, ou seja, sobre o espaço que preciso deixar para os outros na vida do Enzo.

Por partes: sobre as mães, sua importância e seus limites, recomendo a leitura de alguns posts ótimos de colegas blogueiras que foram muito inspiradores.

1) Lígia, a Cientista que Virou Mãe, fez dois posts muito bons sobre a capa da Time americana dessa semana, que estampou uma mãe amamentando o filho de três anos ao lado da seguinte pergunta: “Você é mãe o suficiente?” A matéria -que eu ainda li- suscitou boas questões, que Lígia expôs muito bem. Veja o post 1 aqui e o 2 nesse outro link.

2) A Mari Zanotto, do Pequeno Guia Prático, escreveu O POST do Dia das Mães, publicado no portal MMqD, sobre as muitas culpas maternas e o inevitável choque entre as nossas necessidades pessoais o que é “melhor” para nossos filhos. Corajosamente, ela conta que, cinco anos depois de ter parido a Alice, primogênita, está se permitindo reservar mais tempo para si mesma, ainda que isso signifique menos tempo com os pequenos. Com seu humor delicioso, o post fica ainda mais redondo, apesar do tema-pedrada que ela escolheu. Me identifiquei muito e acho que quase todas nós vamos nos identificar também, tanto em relação às necessidades que temos quanto sobre a culpa que atendê-las nos causa. Para ler (recomendadíssimo se você ainda não leu), vá por aqui.

3) Para rir, vá até aqui, no Mãe de Duas, e dê uma olhadinha na homenagem cheia de humor e -por que não?- ironia que a Priscilla Perlatti fez para nossa “categoria” (devíamos fundar um sindicato…).

4) Por fim, ainda sugiro uma passadinha no Potencial Gestante, da Luíza Diener: nesse post aqui, ela definiu -de certa forma poeticamente- o que é ser mãe. Identificação instantânea, especialmente em relação a comer escondida (tenho feito muito isso nesses dias em que Enzo decidiu que tudo o que eu como ele PRECISA comer também, rá!).

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Agora chegamos noutro ponto importante das reflexões: o meu “não-papel”. Sabe o que de mais importante eu descobri nesse Dia das Mães? Que Enzo adora conviver com outras pessoas. Por conta própria, ele já expandiu seu próprio universo, já busca outras referências, outro tipo de atenção, outros colos, outros carinhos e outras brincadeiras. Nosso mundo Enzo-Mamãe-Papai-gata é, claro, essencial, mas (já) não basta.

É impressionante como ele fica mais tranquilo (apesar de excitadíssimo), mais feliz, mais atento/focado, mais risonho, menos chorão e menos irritadiço quando há outras pessoas em casa. Com as avós, por exemplo, tem uma relação de carinho e cumplicidade que é deliciosa de ver. Mas não é só com elas. Basta ter alguém diferente por aqui que meu minimeninho deixa vir à tona com ainda mais força seu lado “mr. simpatia”.

E ele não faz isso só para chamar a atenção, não. É genuíno. Enzo fica genuinamente mais feliz quando em contato com um universo de gente mais amplo que apenas nós quatro (contando com a Joh, a gata que AMA).

Sabe? Pensando bem -que foi o que eu fiz ontem- é fácil de entender. Os outros, com suas outras referências, outros pontos de vista, outras infâncias e outras histórias de vida, enriquecem muito as experiências do Enzo, seja lidando com ele diretamente seja mostrando a mim e ao Dri coisas que podemos fazer com e para o Enzo que antes não fazíamos.

Exemplos? Meu primo (que fazia anos que eu não via) foi a primeira pessoa a colocar Enzo em pé no chão, há cerca de três meses, quando veio conhecer o pequeno. Meu filho já ficava mais ou menos em pé sobre o sofá, mas nunca tinha botado os pezinhos no chão simplesmente porque isso ainda não tinha passado nem pela minha cabeça nem pela do marido. Resultado é que, desde então, começamos a botar Enzo no chão com frequência e isso representou um salto no desenvolvimento motoro dele. Hoje, ele praticamente já anda e, a seu jeito, engatinha super bem.

No sábado à noite, outro exemplo, um amigo muito querido veio nos visitar. Enzo também adora esse “tio”, a ponto de, só de ele estar por perto, o mocinho ficar quietinho e comportado em situações em que, normalmente, estaria dando um escândalo (como tirar do banho, secar o cabelo, trocar a fralda).

Pois o tio, brincando com Enzo, fez uma coisa que fascinou meu bebê. E foi uma coisa simples, que eu mesma poderia ter feito, mas não fiz porque nunca pensei nisso: ele ficou escondendo e mostrando uma tampinha de garrafa ao Enzo que, às gargalhadas, tentava descobrir onde o objeto estava escondido. Pronto: Enzo agora quer brincar disso com a gente a toda hora, o que evidencia a importância da brincadeirinha e o prazer que gerou. E não partiu de nós, mas de alguém de “fora” do nosso círculo familiar imediato.

Nós, pais, somos limitados, apesar de todo o esforço que fazemos para satisfazer as necessidades dos pequenos, apesar de todo o conhecimento e crescimento que perseguimos. Abrir espaço para os outros na nossa vida e na vida dos nossos filhos é parte do nosso papel. Assumir esse “não-papel”, aceitar que esse espaço não nos pertence, é essencial. E não apenas para ensinar os pequenos a se socializarem, mas para enriquecer mesmo a vida deles e a nossa. E para, aos pouco, ir dando às crianças a liberdade que, um dia, vão reivindicar.

De resto, e meio atrasada, feliz Dia das Mães! 😉

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pai de menina: recomendado!

Passei só pra recomedar a leitura do guest post de uns dois dias atrás no blog da Lola: “Pai de menina“.

É sensacional. E foi de lavar a alma ver um cara se colocando tão bem no lugar das mulheres, porque agora tem uma filha e, portanto, percebe mais claramente a discriminação velada, disfarçada de brincadeira, e que começa quando as pessoas ainda são bebês.

Quando viu a filha ser tratada, na brincadeira, como “alvo” dos menininhos; quando se viu cobrado a “defender” a “honra” da bebê, ficou mais evidente para ele o papel que a sociedade ainda quer enfiar goela abaixo das mulheres. Pena que nem todos os pais -nem todas as mães- notam ou se indignam com isso.

Vale muito a pena. O exemplo dele mostra como, a despeito de acharem que o feminismo acabou ou não tem mais razão de ser, ainda há muito o que fazer numa sociedade que continua estimulando papeis estanques -e opressivos- para ambos os gêneros.

http://escrevalolaescreva.blogspot.com.br/2012/05/guest-post-pai-de-menina.html

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amo muito isso tudo

Não não, não estou falando daquela rede de hambúrgueres que tem como símbolo o palhaço R. O “amo muito isso tudo” é, claro, uma referência ao atual slogan da tal empresa de fast-trash-food, mas só está aqui porque resume muito bem o que quero dizer sobre outra coisa e…bem…me permiti essa licença -digamos- poética. Blame on the adman que bolou a frase, ué.

Daí, então, que tive de ficar uns dias longe da madresfera (amey essa palavra, dona Mari viciada em colo). Muito trabalho, mas muito mesmo, mal conseguia responder e-mails profissionais urgentes, mal e porcamente respondia familiares e deixei sem respostas a pessoa fofa, querida e talentosa que está cuidando do bolo de aniversário do Enzo (ah, vou deixar details pra depois, mas estou organizando a festa do meu minimenininho e, lógico, tenho zentas coisas para contar, minhazamiga).

Plus: deu algum tilt no meu gmail, de modo que fiquei sem acesso a alguns arquivos remotos e descobri, 15 dias depois, que um monte de e-mails que eu mandei/recebi não chegou aos respectivos destinatários.

Daí que rolou, por força maior, um jejum de blogagem, de leitura de blogs, de acesso às redes sociais etc. Dessa experiência de abstinência severa, especificamente em relação à madresfera (meu post mais recente publicado, excetuando-se os de ontem e esse, data de 12 de abril), tenho alguns comentários e uma conclusão. Comentários:

1) Blogar vicia. Não sei se é um processo químico, psíquico, social, motoro, físico, quântico, alquimístico, místico, matemático ou gramático. Mas a coisa impregna, minha gente. E quando você precisa passar um tempo longe da blogagem, seu corpo todo reage. Não vou mentir dizendo que tive tremedeiras, que gritei, que precisei ser amarrada na cama para não abrir o wordpress. Mas confesso que foi fisicamente ruim deixar de blogar. Tive até dores de estômago. E foi emocionalmente ruim deixar de blogar. Senti uma falta louca de escrever, de dividir, de compartilhar, de organizar as ideias, de registrar as coisas. Foi punk. E foi chato.

2) Ficar sem blogar alucina. Como ex-fumante (dos 17 aos 20, 1 maço por dia), sei bem que é a coisa mais fácil do mundo a gente divagar loucamente quando está com muita vontade de fazer uma coisa, mas não pode. Logo que parei de fumar, costumava me imaginar fumando, dava algumas “desligadas” eventuais, ao longo do dia mesmo, e, quando percebia, estava divagando, fumando de mentirinha. Fiz a mesma coisa com o blog. Digamos que esse período de abstinência foi um dos mais produtivos ever. Escrevi uns centos posts mentais.

A gente sempre faz isso, né? Vai tomar banho? Escreve um post mental. Vai à feira? Outro. Esperando para entrevistar uma fonte? Post de novo. Na hora de dormir? Ah, aí são uns dois ou três. Mas dessa vez, tendo em vista que eu sabia que não iria conseguir abrir o blog e escrever no dia seguinte, parece que as ideias fervilhavam mais, numa velocidade maior ainda. Sonhei com posts até, o que nunca tinha acontecido antes. Foram tantas ideias novas, mas tantas ideias novas que, mesmo na correria, anotei algumas para ver se viram posts de fato em breve.

3) A falta que azamiga faz. Senti muita saudade. Mesmo. Não só de blogar, mas, principalmente, das mães da madresfera e dos respectivos rebentos. Saudade de gente que eu nunca vi ao vivo, mas que é tão presente, mas tão presente, que parece amigo de infância, sabe como? Senti falta de trocar ideias, de debater nos comentários, de deixar comentários, de receber comentários, daquele sorriso gostoso e sincero que a gente dá quando lê um relato bacana, quando uma mãe e um filho comemoram alguma conquista ou quando uma mãe confessa dessas coisas inconfessáveis da maternidade, e a gente pensa: “putz, igual que nem eu”.

Senti falta, na verdade, do convívio, de conviver (mesmo que virtualmente) com essas moças, mocinhas e mocinhos que foram se tornando tão importantes para mim nessa nossa pracinha. Fiquei imaginando como estariam as Alices, o Arthur, os Lucas, a Leah, o xará do Enzo, a Nina, o João, a Laura… Queria saber as novidades, queria tricotar!

Impressionante como eu gosto das meninas dessa madresfera! Claro que a gente sabe que os vínculos são vínculos, não importa que a origem seja no mundo “real” ou no mundo “virtual” (cada vez mais real). Mas, lógico, a experiência é a forma mais completa de conhecimento: uma coisa é saber na teoria, outra é saber na prática; e eu soube na prática que meus vínculos virtuais na madresfera são bem fortes.

4) Subestimei a importância da blogagem. Que eu gosto de blogar não era novidade para ninguém. Nem para mim. Mas, confesso, não sabia que gostava tanto assim. Confesso, novamente, que subestimei a importância da blogagem na minha vida. Já deveria ter caído a ficha, mas, às vezes, sou meio lerda: blogar não é acessório, é essencial. É terapêutico. É contato com o mundo, ainda mais quando, como eu, se trabalha em casa. É aprendizado. É maternar de maneiras diferentes. É crescer e melhorar como mãe. É aperfeiçoar. É dizer e é ouvir, tudo ao mesmo tempo. É vivenciar a maternidade em outros níveis. É escrever. É refletir.

E, nesse sentido, foi um aprendizado e tanto passar esse período afastada. Daí que concluí, então, o óbvio: amo muito isso tudo!

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mãmãmãmãmãmã

(POST escrito originalmente em 15 de abril de 2012).

Pois parece que Enzo resolveu fazer tudo-ao-mesmo-tempo-agora: está andando (com apoio, claro) e “falando”. Há uns dias soltou um mãmãmãmã para pedir para sair do carrinho. E gostou da coisa.

Claro que ele ainda não liga o nome à pessoa. Não está, portanto, chamando a mim exatamente, mas a qualquer adulto que possa tirá-lo da situação que o desagrada.

Mas toda vez que ele chama, eu mesma tento atender, converso com ele e procuro correlacionar o mãmãmãmã com frases do tipo: “Mamãe está indo” ou “Fala, filho, mamãe está aqui”.

A ideia é que, aos poucos, ele vá associando o mãmãmãmã, que é uma evolução natural (com consoante, por exemplo) de sons mais simples que ele já emitia, à palavra mamãe (mais próxima) e a outras palavras simples do cotidiano.

O barato nisso tudo é ver que ele começou o processo de aquisição da fala, não apenas por dominar sons mais complexos, mas por começar ele mesmo a diferenciar seus balbucios e a atribuir sentindo próprio a cada um deles, diminuindo as vezes em que usa o choro como forma de expressão.

Para pedir coisas para brincar, por exemplo, ele não emprega o mãmãmãmã. Nesses casos, Enzo gesticula muito, muito empolgado, solta gritinhos e gargalhadinhas e se joga na direção do objeto. Quando já está brincando, costuma conversar muito comigo e com o brinquedo, sempre com sons como aaaaaaaa, êêêêêê, aaaaêêê, aaaaauuuuu, geralmente seguidos de risadinhas ou gritinhos de comemoração.

Já o mãmãmãmã ele reserva para situações bem específicas. Por exemplo: quando quer descer do sofá, em momentos em que quer ele mesmo pegar um brinquedo que está longe e nós precisamos ajudá-lo a andar até lá, na hora em que a fome aperta, no momento em que quer dormir, quando pede colo, quando pede para trocar de colo, na hora de reclamar de alguma coisa…

Não sei se ajudou-até acho que sim-, mas Enzo recentemente adquiriu habilidades com a língua, como fazer sons colocando-a entre os dentes e soprando (aquele barulhinho de carro). Ele também já encosta -todo orgulhoso, copiando o que fazemos para ele- a língua no céu da boca e depois a abaixa, fazendo “tló”, sabe como? E nos provoca a fazer isso o tempo todo. Ri muito quando ele “puxa” a brincadeira e nós embarcamos na dele -o que é sempre.

Agora a gente começa a ensiná-lo a falar outras palavras. É cedo, claro. Mas como a aquisição da fala é um processo constante e que depende de estímulo, quando percebo que há oportunidade, estimulo. Dri também, claro. Estamos, por exemplo, lendo mais para ele. Líamos antes, mas acontece que agora ele presta mais atenção ao que falamos, repara nos sons, observa os movimentos que fazemos com os lábios e língua e, não raras vezes, tenta tocar nossas línguas para “acompanhar” melhor a movimentação.

Então estamos aproveitando mais todo esse interesse, com resultados interessantes: um bebê tagarela, balbuciante, que fala sozinho e com a gente por longos períodos, que canta para si mesmo e que começa a prestar uma atenção diferente, mais interessada e tendente a copiar, a tudo o que dissemos e a tudo o que ele ouve, especialmente se pode VER o que está OUVINDO.

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